Conto: Halloween Tupi



Por: Mayara Vellardi

Naquela assombrosa noite do dia 31 de outubro, o barulho do vento era forte e as nuvens cobriam boa parte do céu, escondendo parte das estrelas e deixando a lua cheia ainda mais macabra.

Foi então que apareceu uma criatura muito rápida, por onde ela passava as folhas se remexiam em um ritmo frenético. As crianças, que por sinal eram muito corajosas, observavam aquilo com certo encanto.

Passados alguns minutos, já não eram mais as folhas que se mexiam e sim uma sombra misteriosa que sobrevoava a chácara. Em alguns momentos, a sombra chegava a tampar o brilho da lua.

- Será que era uma pessoa? – se espanta Rafael.

- Acho que era uma bruxa... – fala Gabriel.

- Bruxas não existem, seu bobo! – fala Beatriz.

- Quem te disse isso? – Gabriel retruca a amiga.

- Minha mãe! – se gaba, Beatriz.

- Sério? A minha mãe me disse justamente o contrário... ela disse para tomarmos cuidado que as bruxas estariam soltas hoje, porque é noite de Halloween. – diz Gabriel um pouco assustado.

- Pessoal, acho que era um ET num disco voador. – sorri Sofia.

- Até parece, ETs não existem! – Beatriz retoma a discussão.

- Já sei, foi sua mãe que te contou isso também! – Gabriel fala em um tom irônico.

- Sim, foi ela mesma! – resmunga Beatriz.

- Parem de bobeira, estou ficando um pouco assustado. Acho mais fácil acreditar que era o Papai Noel viajando de trenó e olhando o que as crianças estão fazendo de bom e de ruim... já está chegando o Natal mesmo. – Rafael fala rapidamente e fecha os olhos em seguida.

- E vocês acreditam em Papai Noel e disco voador? – se espanta Beatriz.

- Eu acredito em tudo isso e muito mais. Quero ficar aqui para ver quem é essa criatura que às vezes passa no céu e às vezes passa no chão! – fala Sophia animada.

- Está na cara que são seres diferentes. Os dois são muito rápidos, mas os movimentos são diferentes. Um voa e o outro corre... – analisa Gabriel.

- Olha pessoal, acho que já está na hora de voltamos para dentro de casa. Não estou gostando de brincar no quintal. – se amedronta Rafael.

- Dá um tempo, Rafa! Deixa de ser frouxo! Nós já somos homens! Temos 11 anos e podemos muito bem lutar com quem for... – se encoraja Gabriel.

- Gente, eu não quero lutar com ninguém. Sou da tribo paz e amor e estou com vontade de conhecer quem são esses seres mágicos. Parem de falar tanto! Assim vocês só estão espantando eles. – Sofia fala com firmeza.

- Eu aposto com todos vocês que são os meus tios querendo pregar uma peça na gente. Minha mãe disse que eles não viriam passar o final de semana aqui na chácara, mas eu acho que eles já chegaram e estão querendo nos assustar. – fala Beatriz com convicção.

- Já sei! Vamos entrar na barraca, fingir que fomos dormir e deixamos dois celulares gravando o movimento. Um celular grava o céu e o outro celular grava o chão. – sorri Gabriel.

- Eu topo! – todos falam ao mesmo tempo.

As crianças fazem tudo conforme o combinado. Logo escutam uns cochichos.

- As crianças já foram dormir! Podemos pregar uma peça nelas, o que acham? – falam os tios Ronaldo e Roberto.

- Mas o que vamos fazer? – pergunta Sabrina, mãe de Beatriz.

- Vamos vestir nossas máscaras, iluminar o fundo da barraca com uma lanterna de luz vermelha
e quando eles saírem, nós gritamos e saímos correndo. – conspiram os tios de Beatriz.

- Ok, vamos fazer isso agora mesmo! Vai ser muito divertido dar um susto nas crianças. – fala Sabrina. 

As crianças se entreolham e combinam de sair da barraca e estragar a surpresa antes mesmo dela acontecer.

- Eu não falei para vocês que meus tios estavam querendo assustar a gente? – fala Beatriz sentindo-se vitoriosa.

- Bia, não me leve a mal, mas eu não tenho certeza de que seus tios e sua mãe estavam voando lá no céu ou passando tão rapidamente pelas folhas... – se preocupa Rafael.

- Deixa de ser banana, Rafa! Vamos lá zoar com os tios da Bia. Vai ser legal. Depois a gente pensa no resto. – incentiva Gabriel.

Logo as luzes começam a brilhar no fundo da barraca, as crianças saem rapidamente e começam a dar risada.

- Vocês não pegaram a gente! Sabemos que são vocês! Mãe, tio Ronaldo e tio Roberto, monstros não existem! – grita Beatriz.

Eles ficam surpresos, sorriem um pouco sem jeito e entregam algumas guloseimas que haviam trazido para as crianças passarem a noite na cabana.

Ao entrarem na casa da chácara, Ronaldo e Roberto têm uma breve conversa sobre a forma como Sabrina tem educado sua filha.

- Sabrina, você tem criado a Bia para ser uma pessoa crítica e cética. Isso é bom por um lado, mas é ruim por outro, pois isso tira um pouco da magia da vida. – se preocupa Roberto.

- Eu só falo verdades para minha filha, apenas isso. Por qual motivo ela precisa acreditar em todas essas coisas? Acreditar em algo que não existe só traz desilusão. – lamenta Sabrina.

- Sá, minha irmã... eu sei que isso tem a ver com aquela vez que você tinha uns 7 anos, acreditava em coelho da Páscoa e eu comi todos os ovos de chocolate e ainda falei que nosso pais tinham comprado no mercado e que coelhos não botavam ovos. De lá para cá, sei que você passou a não gostar de nada dessas coisas e sempre fez questão de ensinar a Bia a não acreditar também. – desabafa Ronaldo.

- Roni, eu já superei tudo isso. Faz tanto tempo... eu só quis poupar a Bia de uma possível decepção. Beto, Roni... hoje eu até topei brincar com vocês para assustar as crianças! Dá um crédito para mim, poxa... – fala Sabrina abraçando os dois irmãos.

Os três irmãos tomam suco na sala, quando ouvem gritos vindos do quintal.

- Tia! Tia! Eles pegaram a Bia. – gritam as crianças.

- Eles quem? – fala Sabrina com certa desconfiança.

- O saci-pererê e a bruxa Carmela. – choraminga Rafael.

- Ah, já sei! Vocês estão querendo pregar uma peça em nós, assim como tentamos pregar em vocês! – pisca Sabrina.

- Tia, pelo amor de Deus! Acredite na gente, isso não é brincadeira. – se desespera Sofia.

- Mãeeeee! Eu estou aqui em cimaaaaa! Socorrooooo! Eles existem! – grita desesperadamente Beatriz.

Todos ficam muito assustados e Sabrina grita:

- O que vocês querem? Devolvam minha filha!

- Nós queremos que você acredite em fada, bruxa, saci, mula sem cabeça, ET, Papai Noel e tudo mais que existir! – após falar em um tom bastante bravo, a bruxa Carmela solta uma gargalhada bem alta.

- Deixem minha filha aqui, eu vou com vocês. Me levem no lugar dela! – Sabrina estica os braços num ato de desespero.

Saci-pererê tira Beatriz de cima da vassoura da bruxa Carmela e entrega a garota para seus tios. Na sequência, com extrema agilidade, ele puxa Sabrina e a coloca em cima da vassoura, subindo no meio de transporte e se preparando para viajarem todos juntos.

- Onde vocês vão me levar? – se preocupa Sabrina.

- Não precisa ter medo, não vamos fazer mal para você... – fala Saci-pererê segurando a mão de Sabrina.

- Nós só fizemos isso para te provar que somos reais e que magia existe. – fala a bruxa Carmela.

- Vocês são exatamente como a maior parte das pessoas imaginam! Isso é incrível! – se encanta Sabrina.

- Será que é só imaginação das pessoas, Sabrina? – fala bruxa Carmela.

- Onde há fumaça, há fogo! – sorri Saci-pererê.

- Agora eu entendo! Me desculpem por eu não ter acreditado antes. – se envergonha Sabrina.

- Vamos levar você de volta para a chácara. As crianças estão assustadas e seus irmãos também. – se preocupa a bruxa Carmela.

Eles voltam para a chácara, onde todos esperam amedrontados e ansiosos. Saci-pererê ajuda gentilmente Sabrina a descer da vassoura.

- Passem essa história adiante. Contem para todos que nos conheceram e o que aconteceu nessa noite de Halloween. – fala Saci-pererê.

- Mas e se ninguém acreditar na gente? – se preocupa Beatriz.

- Pelo menos vocês deixam a dúvida no ar... – bruxa Carmela dá uma piscadinha para a menina, monta em sua vassoura e voa para bem longe.

- Do jeito que estão as coisas hoje em dia, deixar a dúvida no ar já é bom o suficiente! – sorri Saci-pererê indo embora rapidamente.

- Pessoal! No meio dessa correria, nos esquecemos dos celulares! Eles ficaram gravando tudo! – se empolga Beatriz.

Todos assistem à longa gravação dos dois aparelhos e todos os acontecimentos estavam ali, registrados. No dia seguinte, as crianças colocam na internet e o vídeo tem milhares de visualizações e comentários. Algumas pessoas parabenizam o trabalho feito pelos atores, outras pessoas desconfiam que a história possa ser real, outros acham que não passa de uma brincadeira de mau gosto... mas no final das contas, o que importa mesmo é a dúvida que paira no ar deixando um gostinho de quero mais e o desejo intenso de viver em um mundo com mais magia. 

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